9 de janeiro de 2011

Apenas mais uma xícara de café ...

    
Hemingway ja falava em um dos seus contos sobre "um lugar limpo e bem iluminado". E as vezes isso se torna tão necessário. Não a nossa casa, nela sabemos do nosso lugar seguro, do nosso "canto", mas um lugar extra, fora disso, onde se sinta de fato "em casa". As vezes esse lugar é necessário ...

    O homem caminha pela cidade com o sol já se pondo e dando espaço as primeiras luzes das ruas. Ela saudosa o recebe bem, como a um filho que há muito não retorna ou talvez apenas um com quem perdeu o costume de conversar. O dia é de inverno mas ainda assim é abafado, algumas pessoas caminham rapidamente com seus rumos definidos, outros se arrastam lentamente sem parecer saber para onde querem ir. Ele veste suas roupas usuais, o que o difere da esmagadora maioria dos que cruzam seu caminho, a barba mal feita costumeira, a imagem que as vezes o faz se questionar se é de fato um resultado do que é ou apenas uma forma de levantar uma bandeira, enfim, para ele não faz mais diferença. Se não possui um lugar no mundo e deve se sentir fadado a isso, tudo bem, e se seu lugar no mundo é o de ser o contestador, o defensor de uma causa perdida ou inexistente, tudo bem também.
    O homem entra num café, o lugar parece bastante vazio comparado ao seu estado normal, algumas pessoas conversam, em geral os mais velhos é que tem o costume de ir ali, mas o homem se sente bem quando está nesse meio. Algo de muito familiar cria uma conexão daquele lugar "limpo e bem iluminado" com sua jovem alma velha. Talvez os questionamentos, tudo que ele busca ou nem sabe que busca, se tornem um pouco mais claros e fáceis de visualizar quando se encontra ali.
    Dezenas de tipos de pessoas passam ali nas duas horas em que o homem fica parado, encostado no balcão, tomando café, pensando na vida e analisando as pessoas. Cada uma com sua história, seus problemas, medos, descobertas. Convergindo para um mesmo lugar, em torno talvez da situação mais banal e inesperada, tomar um café. Claro que as conotações as quais isso implica são várias, há o casal conversando sobre os mais diversos assuntos na mesa, mas que no fundo sabe-se, estão com os cerébros a toda velocidade, raciocinando e pensando num único questionamento: seriam eles certos um pro outro? Há pessoas lendo livros, tomando seu café, há uma família que está distante alguns metros no balcão. Marido, esposa e o filho, possuem sorrisos no semblante, fazem o homem pensar, indagar sua posição, suas facetas, seu futuro. Talvez o que o faça se sentir bem nesse meio é que ao mesmo tempo em que se sente parte de um todo mais sensato, o lugar o faz refletir. As atitudes das pessoas não parecem tão sem-sentido.
    E o homem se pergunta, constantemente, o que afinal naquele lugar o faz sentir-se tão bem, talvez seja o momento em que ele mais se sinta otimista, que mais veja a felicidade por perto, talvez essa tal felicidade até esteja por ali, disfarçada em alguma daquelas pessoas, só para garantir que o homem tenha, em meio aos seus questionamentos e afazeres, alguns minutos de paz. Pode ser, pode ser um tipo de mágica inexplicável que o faça voltar lá sempre que possível, mas claro, talvez seja apenas a vontade por mais uma xícara de café ...

                                24/05/2009 - 10:51

3 comentários:

WaL disse...

me lembrou o aquarios...não sei bem porque...

João disse...

"isn't everything a little autobiographical ???"

Já diria o Jessie ... =D

WaL disse...

hmnm..agora me senti em um trem com proxima parada em viena :D