30 de janeiro de 2011

"Sociedade, essa raça tão louca ..."

    
Há algumas semanas atrás resolvi assistir ao filme Na Natureza Selvagem (Into the Wild), por indicação de um amigo. Feliz idéia, há tempos não via algo que ao mesmo tempo tinha roteiro, fotografia e atuação bons, além de me fazer pensar, e pensar muito, quase até o ponto do esgotamento mental. Válido comentar também a trilha sonora original incrível escrita por Eddie Vedder a convite do diretor do filme, ninguém menos do que Sean Penn.

     Mas enfim, indo ao que interessa, o filme levantou pontos importantes nas minhas idéias, coisas que eu pensava e repensava, conceitos sobre sociedade, relações pessoais, liberdade, etc. Somando a tudo o fato de se tratar de uma história real, cria todo um peso emocional que me faz admirar profundamente a pessoa que foi Christopher McCandless. Mas sem mais delongas, não faço aqui nenhuma resenha ou crítica do filme, apenas apresento ele como forma de falar sobre o que realmente ele me fez pensar.


     Crhis demonstra perfeitamente o exemplo de alguém que se sente deslocado, na vida em geral, ele de forma alguma consegue suportar o que para ele parece ser uma sociedade que vive uma grande mentira. E é dessa mentira que se procura escapar constantemente, as pessoas mergulhadas nessa letargia absoluta muitas vezes preferindo aderir à padrões a fim de se sentirem parte de algum todo, de alguma "tribo". Temos essa falsa impressão de que vivemos juntos e somos irmãos ao mesmo tempo que todos são individualizados completamente e postos em uma "arena" social todos os dias a fim de combaterem por seu quinhão. E qual a saída encontrada muitas vezes? Se isolar ainda mais, McCandless o faz, e vai mais longe. Se reinventa como Alexander Supertramp, rompe esse cordão umbilical tão forte que ainda nos une com esse todo tão pobre moral e ideologicamente. Resolve viver sozinho, ele e a natureza. A única forma de se "purificar" completamente dessas marcas sociais já tão impregnadas em todos nós. Isolamento completo, e faz parecer simples a decisão.


     E esse distânciamento as vezes parece tão tentador, quando se pensa, pensa, e parece não se achar um lugar que nos veja como "normal". Há certos momentos em que fica difícil aguentar a hipocrisia que toma conta da nossa volta. As pessoas, a falsidade, o distânciamento através de relações com a profundidade de um prato raso. Pra quem pensa demais, a sociedade se torna um fardo a carregar, uma constante diária de afastamento que as vezes dificulta a própria comunicação consigo. Porque invariavelmente as pessoas tem preguiça de pensar, elas não querem questionar.

     Me sinto incomodado com isso, quero na minha volta quem tenha idéias diferentes, quem não queira ser mais um na multidão. Porcuro a excessão e não a perfeição. Mas me parece que hoje em dia as excessões cada vez mais se tornam escassas e parece cada vez mais inútil tentar commbater a ignorância, a apatia e controle massificados. É exaustivo se ver sozinho, não "na natureza selvagem", mas "na sociedade selvagem". Essa tão falada e já descrita por muitos como "selva de pedra".

         "Happiness only real when shared." (A felicidade só é real quando compartilhada)

     Talvez a frase mais simples de McCandless, mas uma que mais me fez refletir. Somos seres culturamente sociais, precisamos de outros, talvez as coisas não estejam funcionando de modo perfeito, mas é como as molas dessa engrenagem aprenderam a rodar. Jack Kerouac fala em um de seus livros que o homem precisa pelo menos uma vez na vida passar por essa experiência de estar "sozinho no topo da montanha", e eu acredito que seja verdade, sozinhos talvez tenhamos a serenidade e a paz necessários para nos encontrarmos, não de modo filosófico respondendo a perguntas primordiais sobre quem somos e a que viemos ao mundo. Mas de modo bem prático, pensando e repensando nossa posição perante a sociedade, nosso ponto de equilíbrio que nos diferencia dos animais ditos irracionais, e ponderando finalmente se estamos fazendo o bastante. Seja caminhando pelas estradas pedindo carona ou dentro de um quartinho repleto de idéias citando novamente Keruac. Talvez o segredo esteja aí, não abandonemos as idéias ...

10/05/2009 - 14:52

Um comentário:

jandora disse...

este breve texto que descreves tua visão em cima do filme, me lembra um texto que me mandastes a um tempo atrás não achei aqui nos meus arquivos mas se lembrar me mande, era sobre a montanha e uma cabana, lembra?