15 de janeiro de 2011

Solidão ...



    Me atrai falar da solidão, não sentí-la, mas pensá-la. Essa solidão que vai bem além do corpo e focaliza na alma da gente. A solidão que se liga perenemente ao amor e que usa da realidade para nos mostrar as verdades dos nossos medos. Como um tapa na cara nos derruba de joelhos, nos faz pedir clemência e desejar que apenas consigamos aguentar um pouco mais. Abro as janelas, as portas interiores para que o sol entre, para que ele possa expurgar essa dor pungente, mas mais rápida que a luz e mais esguia que o vento ela foge, se esconde na minha memória, na minha racionalidade. Ali fica como um sonar, no silêncio dando sinais de que esta ali, me acompanhando de perto.
    Ahh essa falta de um porto para que os sentimentos possam desembarcar, essa calmaria em que esles se encontram no meio do mar, temerosos imaginando o quanto ainda irá demorar para que a tão desejada terra firme seja avistada. Essa incerteza de que poderão ser e causar todo o efeito que pretendem, essa necessidade de romper a barreira do mar profundo afim de descansar nos braços de alguém que queira aceitá-los e acolhê-los em seu peito. Ahh esses sentimentos solitários que ali se encontram, já tão abatidos mas com a coragem de um leão no momento em que vêem a chance e a necessidade de sê-lo.
    E por esse mar de águas escuras em que a noite parece não ter fim talvez um sentimento consiga encontrar o vento, içar as velas em direção ao porto tão querido, e lá chegando, meio perdido, talvez não encontre necessariamente quem ou o que procura. Porque o mundo assim o faz, o destino assim o quer, encontros e desencontros pelos mares e portos dessa vida. Ilusões criadas, ressoam como poesia aos nossos ouvidos, correm como crianças no parque numa manhã de sol, mas facilmente tropeçam e caem. Ao olhar para cima novamente se vê que o sol se foi e a tempestade se forma no horizonte. Essas ilusões se assustam facilmente e se misturam com a poeira da estrada para que nunca mais sejam encontradas pelo caminho, marcam como pequenas cicatrizes a alma da gente, pequenas cicatrizes imperceptíveis, mas que sempre voltam a doer quando a chuva é iminente e nos ensinam a prevê-la e preparar nossas armas.
    Ahh essa solidão, por vezes tão necessária, tão acolhedora, e por vezes tão fria e triste, que faz com que vejamos o mundo com lentes de cético, olhar pesado, coração frio, com o escudo em riste, prontos para o próximo golpe, quer ele venha de onde for, seja desferido por quem for, gigantes, titãs, enquanto nos escondermos na pele-grossa de nossa insensibilidade, nada nos machuca, nesse invólucro que nos parece tão aconchegante mas ao mesmo tempo solitário. E assim vemos que fugir da solidão ao mesmo tempo em que a alimentamos é inútil. Aprendemos que na vida os riscos que corremos são ao mesmo tempo inimigos e aliados, são companheiros de nossos sentimentos no caminho deles em busca de reconciliação, descanço e paz.

                            30/12/2008 - 15:00

Um comentário:

Michele Moura disse...

"Essa incerteza de que poderão ser e causar todo o efeito que pretendem..."

É da natureza humana, penso eu, duvidar de nossas capacidades, de nosso merecimento... Será que mereço amor, sucesso, felicidade? Será que saberei retribuir quando os tiver conquistado?

Mas mesmo na incerteza, desejamos e esperamos que tudo aconteça da melhor forma possível (e, se possível, que aconteça da forma que nós planejamos).

Pessoa já dizia: "Não sou nada, não posso querer ser nada, aparte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo."

E somos todos como ele.

Só precisamos aprender a parar de ficar esperando por algo ideal, e a valorizar as possibilidades reais que nos aparecem o tempo todo.

:)