12 de janeiro de 2011

Apenas algumas horas ...

    A chaleira apita com a água fervendo. O menino de susto se põe em pé para logo após voltar a brincar na varanda ouvindo os barulhos do campo, aqueles barulhos tão bons que unidos ao ranger da cadeira de balanço do vovô se tornam a mais bela sinfonia. O garoto sorri para o bom velho que responde com um sorriso bonito ao mesmo tempo em que pita seu palheiro. O vento acaricia o pomar com delicadeza, mas mesmo assim uma maçã faz questão de cair no chão. O menino corre até ela, e meio estabanado cai no chão como se mal tivesse aprendido a caminhar. Ele pega a maçã e sai a caminhar pelo campo. Começa a comer lentamente, como se cada mordida fosse uma descoberta mais e mais interessante. O menino nota que não conheçe tão bem o lugar por onde esta caminhando, olha pra trás e ve a casa na distância. Ainda consegue distinguir a silhueta do avô, sentado e fumando seu cigarro.
    Árvores estranhas, alguns barulhos diferentes, era tudo muito bonito, mas ao mesmo tempo o menino sentia uma certa ansiedade por se distanciar tanto da casa. Após caminhar um pouco e perder a noção do tempo ele se enconta num descampado enorme, deita de costas no chão e para  admirando o sol e o céu azul. O cheiro, a cor, a sensação da grama invadem os sentidos sem pedir licença e toda aquela combinação de novos sabores e sentimentos fizem com que ele adormeça ali, sozinho. O menino não sonha é tudo como num piscar de olhos, de repente ele acorda de susto, mas dessa vez não é a chaleira da avó, o céu está cinza e ao longe os relampagos dão o tom.
    Então que ele corre, corre até não sentir mais as frágeis pernas, sem pensar para onde está indo ou por que se dirige naquela direção. A natureza não mais apresenta-se em tons alegres e receptivos, o menino tropeça, desvia de galhos. Ele não entende por que aquelas mesmas árvores que pareciam tão boas e cheias de vida agora parecem más. A mesma felicidade que elas pareciam lhe trazer, agora querem lhe tirar. O menino então vê uma árvore diferente, tem no tronco uma abertura grande, nota que ali ficaria protegido da chuva. Senta com as mãos abraçadas nas pernas e a testa escorada nos joelhos, fecha os olhos e tenta lembrar dos momentos que passou enquanto caminhava por ali mais cedo, da felicidade e do turbilhão de sentimentos e sensações que havia presenciado e vivido. Seus sentidos se perdem e, sem saber dizer por quanto tempo ficou naquele estado de torpor, desperta com o canto de um pássaro azul.
    Caminhava agora sem medo, e alguns passos adiante la estava a casa, com a figura do avô dessa vez somada a da avó e de seu pais, todos reunidos conversando. A casa se encontrava igual, poucas horas haviam se passado, nada havia de fato mudado, mas de certa forma o menino sentia que nada nunca mais seria como antes ...

                            21/09/2008

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