13 de fevereiro de 2011

Fidelidade de verdade ...

Paul não entendia as razões. Sempre fora um cara dedicado, tentava ser uma pessoa boa até nos momentos mais difíceis. Falta de grana, a choradeira das crianças durante a noite, as festas de fim de ano aguentando as incontáveis críticas por parte dos pais de Estella. Ele sabia que não era nada perto do perfeito, tinha realmente suas falhas, mas achava que no balanço das coisas era no mínimo mediano. Mas parecia agora que nada disso importava para Estella. Já estavam casados há 8 anos, somados ao ano em que ficaram noivos e aos 5 anos de namoro, desde o primeiro da faculdade, tinham 14 anos de convivência juntos. Paul se perguntava onde havia perdido a felicidade em meio a esse caminho por vezes bastante tortuoso.
No início parecia tudo tão certo, Estella era um companheira em qualquer tipo de empreitada, tinha sua independência mas fazia questão de deixar claro a Paul que ele estava sempre incluído nos planos. Por parte dele era o mesmo, mas já nessa época ele sentia um desejo por parte de Estella que ele não compartilhava. Uma necessidade de querer sempre mais, materialmente falando. Paul era um cara estabilizado econômicamente, mas não se pode dizer que tinha sido um grande vencedor financeiramente. Mantinha a situação tranquilamente e, somado ao emprego de Estella, ambos tinham um nível de vida médio. Paul lembra certa vez de uma conversa que teve com a esposa sobre isso, ha uns 3 anos atrás:

- Se continuar parado assim vai acabar ficando gordo e com um salário mediano pro resto da vida - Indagou Estella.
- Só estou vendo o jogo e tomando uma cerveja querida, amanhã eu vou correr no parque com a Penny como sempre. E sabe que meu salário e o seu são o suficiente para manter essa casa, por que mais?
- Oras, por que mais. Porque sim, porque podíamos ter uma casa melhor, colocar as crianças em uma escola melhor, trocar o carro. Até mesmo uma viagem.
- Posso tentar falar com o Phil, mas as coisas na firma não andam tão bem assim a ponto de eu ter certeza de um aumento.
- Pelo menos tente.

Ele tentou, mas não foi daquela vez. Um ano depois conseguiu o tal aumento e tiraram férias na costa oeste, o sol e as pessoas alegres nas praias parecem ter aplacado um pouco as discussões do casal. Mas logo aquilo também parecia se tornar pouco, e tudo que Paul fazia nunca era suficiente para satisfazer as vontades de Estella. Ela havia sido criada como uma princesa pelos pais, e o fato de se casar com Paul parecia mais um ato de rebeldia, um mimo que passaria. Mas não, algo os fez ficarem unidos, e dessa união nasceram os filhos, Mary, e William, tinham agora 7 e 5 anos respectivamente.
Foi há dois meses atrás que ele começou a desconfiar. Um enorme abismo parecia ter sido criado entre ele e Estella, e por esse vácuo nem a mais forte tentativa de sentimento ou apreciação por parte de Paul conseguia passar. Tudo era sugado para esse nada, e Estella se mantinha caminhando na direção oposta. Paul sabia que as coisas não estavam bem, mas sempre pensou, "quem não tem problemas?". Acreditava que era uma fase, mas descobriu a traição de estella. Não descobriu nada, na verdade ela mesma contou, Estella podia possuir seus defeitos mas não conseguiu esconder aquilo e então contou ao marido que já estava traindo ele há quase três meses e não aguentava mais aquela mentira. A briga foi enorme, e o resultado foi final, não havia volta. Começaram a se preparar para o divórcio e Paul saiu de casa.
E lá estava ele sentado no apartamento recém alugado, ainda não havia desencaixotado a maioria de suas coisas.

- Mas que porcaria! Não consigo encontrar um mísero garfo por aqui! - Exclamou ele enraivecido e nquanto jogava longe uma colherinha de café.

Penny apenas o olhou e balançou um pouco a cabeça.

- Penny onde será que tudo deu errado? Será que foi culpa minha, ou da Estella, ou será que ambos erramos. Existe isso de errar? Será que era destino, desde que os pais dela pregaram que nunca seríamos felizes juntos? - Paul soltou um suspiro longo. - Droga! Eu nunca acreditei em destino, foi uma confluência de fatos, é isso, foi pura e simples falta de sintonia.

Penny por vezes andava pela sala, e parecia prestes a falar alguma coisa, mas entao parava e ficava em silêncio, apenas olhando para o amigo. Paul então sorriu e disse:

- Não devia ficar perguntando essas coisas, não preciso te chatear com meus problemas, prometo que amanhã voltamos a correr no parque - Paul nessa hora pôde jurar que viu um sorriso surgir no semblante dela.

Após desistir de achar um garfo comeu o jantar improvisado usando uma colher gigante que encontrou. Ficava pensando se sua falta de ambição era um problema tão terrível, a ponto de fazer Estella se desinteressar tanto dele. Será que era tão ruim assim ser alguém que não quer sempre mais, mais e mais? Será que era tão difícil ser aceito como alguém que não é convencional aos padrões sociais de acumular e acumular. Enquanto se questionava sobre isso se pegou olhando uma foto onde estavam ele, Estella e as crianças quando viajaram para a costa oeste. Foi em Seattle, num dia chuvoso, estavam almoçando no quarto do hotel e jogando alguns jogos para passar o tédio. Não conseguia deixar de achar a esposa a mulher mais linda do mundo, esposa não, ex-esposa. A felicidade marcada naquela foto parecia tão simples, algumas horas de diversão juntos. Nunca mais veria aquele sorriso no rosto de Estella, e ao mesmo tempo em que ficava triste por isso, seu sentimento era dobrado pela falta de fidelidade dela. A maior prova de respeito para ele, fidelidade. Sentia-se um bobo naquele momento, enganado, pensava que nunca mais seria capaz de confiar em ninguém.

- Fidelidade, esse bem tão valioso, acho que não acredito mais nisso - Nesse momento ele olhou para Penny ali parada, olhando também para ele então falou - Mentira, acredito na sua fidelidade incondicional Penny, você sempre esteve do meu lado, desde que nos conhecemos. E tem sido quem mais me dá força nessa situação toda. Vai junto no fim de semana quando eu buscar as crianças para passearmos não vai?

Nesse momento Penny balançou o rabo e caminhou em dieção ao dono, ele estava servindo sua comida no pote e ela pulou para lamber sua mão. Paul sorriu e enquanto ela comia falou em voz alta:

- É, não existe fidelidade maior do que a de um cão.

PS.: esse texto foi criado por pura influência de um filme que assisti há poucos dias, e por descobrir a história de Hachiko e seu dono no Japão. É minha singela homenagem a esses amigos por vezes esquecidos.

Um comentário:

WaL disse...

John...realmente acredito que os animais são companheiros de jornada..são a verdadeira prova de fidelidade! Mas não vamos desistir das pessoas, ok? Bjossss